SÃO PAULO — Ter uma obra de arte em casa pode agradar não apenas aos olhos, mas ao bolso. Investir nessa área é opção para quem já tem uma carteira diversificada e pode deixar parte de seus recursos aplicada por um prazo maior. Segundo especialistas, é possível entrar nesse universo sem desembolsar milhões por uma única peça. Há opções a partir de R$ 500, além de diferentes estratégias de aplicação, como um fundo de investimento em arte. Mas é preciso ter em mente que esse é um mercado de baixa liquidez e alto risco, já que a valorização esperada pode não se concretizar.

— Aplicar em arte não tem nada a ver com renda fixa ou variável. É um mercado de baixa liquidez, o horizonte mínimo de aplicação é de pelo menos uma década, e o risco de um quadro ou obra não se valorizar como o esperado é altíssimo. Além disso, é preciso gostar o mínimo de arte — alerta o advogado Pierre Moreau, do escritório Moreau Advogados, que atua nesse segmento.

Mas, para quem pode correr esse risco e se interessa pelo tema, asopções são atraentes. Hoje é possível dar o primeiro passo desembolsando entre R$ 500 e mil reais. Essa faixa de valores permite uma tela, foto, pequena escultura ou gravura de um artista em início de carreira, diz o médico Marcelo Secaf, que começou a colecionar arte na década de 70 e entrou profissionalmente no ramo ao fundar a Galeria Logo, em São Paulo.

— A valorização de um artista depende de uma conjunção de fatores. Se suas obras começam a ser apreciadas por colecionadores, curadores e acadêmicos; se as galerias começam a procurá­lo; se os museus têm interesse na compra, tudo isso ajuda a impulsionar o valor de suas peças — explica Secaf.

MERCADO DE R$ 160 MILHÕES

O galerista ressalta que, diferentemente de ações de empresas, há também um componente muito subjetivo na avaliação de uma obra. Secaf lembra casos em que as peças de alguns artistas começaram a ser vendidas por R$ 1.500 e, três anos depois, já valiam dez vezes mais. Um levantamento da Associação Brasileira de Arte Contemporânea (Abact) mostrou que, em 2013, esse mercado movimentou cerca de R$ 160 milhões, em um conjunto de 45 galerias. O valor médio de cada obra de arte foi de R$ 24.500, alta de 11,4% frente a 2012.

Entre os artistas blue chip — designação para as ações mais cotadas da Bolsa de Valores — estão Vik Muniz, Beatriz Milhazes e Adriana Varejão. Milhazes, por exemplo, já teve telas arrematadas por entre US$ 1 milhão e US$ 2 milhões nos EUA, quando a casa de leilões estimava vendê­las por um valor médio de US$ 600 mil.

Segundo a consultora de arte Julie Belfer, podem ser considerados artistas emergentes Nazareno (galeria Emma Thomas), Fernanda Rappa (Central Galeria) e Virgílio Neto (independente). Ela cita ainda Sofia Borges (Galeria Milan), que, embora já tenha participado da Bienal de Arte de São Paulo, está em início de carreira.

Belfer explica que a exposição do artista — se suas peças circulam, no Brasil ou no exterior — ajuda a valorizar sua obra. Mas ressalta que o comprador precisa apostar em peças de que goste, sem pensar no retorno financeiro imediato. E recomenda estudar a carreira do artista, sua trajetória e a que galerias está ligado. Para os interessados, a Bienal Internacional de Arte começou no último fim de semana, em São Paulo, e a ArtRio abre na quarta­feira no Rio.

— É bom saber o que está sendo publicado sobre o artista e frequentar galerias, cursos e ateliês. O importante é encontrar algo em que haja um equilíbrio entre o gosto pessoal, o apelo artístico e mercadológico. Não se pode comprar só pelo lado mercadológico — diz Belfer.

Segundo ela, as peças de valor mais acessível — até R$ 2 mil — são os múltiplos, ou seja, gravuras ou fotos que, por terem mais de um exemplar (normalmente, parte de uma série limitada), custam menos. Para quem já tem uma coleção mais robusta, Belfer recomenda fazer seguro. A consultoria de um especialista em restauro e conservação também é útil antes de efetivar uma compra.

BRASILEIROS COM PRESTÍGIO

Há outras opções. Em 2010, a gestora de recursos do banco Brasil Plural lançou o primeiro fundo destinado a artes plásticas no país, o Brazil Golden Art. Um total de 70 investidores, a maior parte profissionais do mercado financeiro, aplicaram R$ 40 milhões — a cota mínima era de R$ 100 mil. Com os recursos, foram compradas 630 obras de ate contemporânea brasileira, 70% de artistas emergentes e 30% de blue chips. A coleção terminou de ser mointada no ano passado. montada no ano passado. Agora as obras serão vendidas, e os ganhos, distribuídos aos investidores.

Segundo o gestor da carteira, o curador Heitor Reis, que já foi diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia, a rentabilidade real do fundo só será conhecida em seu encerramento, que deve ocorrer em dezembro. Mas ele ressalta que a valorização média das obras adquiridas está entre 150% e 200%. O sucesso foi tal que o banco já pensa em lançar outro fundo, que poderia incluir artistas da América Latina.

— Arte é um ativo real e muito seguro. E a arte brasileira está em um período excepcional, com prestígio e participação em exposições no exterior — diz Reis.

Mas, como em todo investimento, é preciso estar atento aos riscos. Mauro Calil, consultor financeiro e fundador da Academia do Dinheiro, explica que a arte deve ser o último estágio de diversificação da carteira, já que não há preço de referência e o comprador fica dependente da avaliação de marchands. Além disso, o investimento é de longo prazo e tem baixa liquidez: é difícil se desfazer de uma obra de arte de uma hora para outra. E paga-se imposto de renda de 15% sobre o ganho de capital.

Escrito por Ana Paula Ribeiro – O Globo